quarta-feira, 30 de março de 2016

Da ausência do Charlie...





          Um grande vazio nos acolhe, aquece, nos dá sentido num mundo cada vez mais carente de sentido. Por vezes uma sombra nos agarra e nos empurra suavemente rumo ao silencioso lago do olvido e do desconhecido. 
          A nossa crença se tornou uma nau desgovernada

          " e tua lembrança restará para sempre na memória esquálida dos teus mortos "

          

          Notícias do Charlie:


          Agora que a batalha silenciou, à distância Charlie vê os últimos raios do sol que se põe, ele ouve o uivar de um cão pros lados da floresta e bem próximo, à beira de um barranco, um colega que dorme, há dias, um sono eterno...

          Não há mais o que buscar; o estandarte foi capturado pelo inimigo que também se foi; qual o caminho pra casa?
          Não há mais casa...
          A taberna foi incendiada. O povoado foi incendiado. O fogo varreu tudo...

          O fedor.
          O fedor é inenarrável...

          Há um rádio num canto. Mudo. Não há pilhas.Não há canções. Não há...
          Há um joelho partido. É preciso arrastar-se para fora desta toca. É preciso esquecer o fuzil e nem há projéteis e Charlie já não tem vontade de mirar ninguém...

          Em algum lugar por aqui havia um porto, ele sabe, e uma voz lhe diz: Oriente-se pelas estrelas!
e ele busca a Ursa Maior mas tudo está embaçado. Seus óculos se perderam há muito...

          É preciso arrastar-se para fora dessa toca...

          (...)                                  
 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Sem planos





O que assombra é a luz difusa no abismo
Verdade é: não me pautei pela razão
condicionado às tentações do misticismo.

O som que brota das trombetas na outra ala
me desespera, me espanta, me acalenta
sou convocado mas pertenço a outra escala.

O riso louco do vizinho me consola
A silhueta na janela me fascina
Sou alfabeto mas pertenço à outra escola.

Sou vegetal, sou mineral, sou oceano...
E o que me aguarda logo após aquela esquina ?
Reconfortante é não restar um outro plano...



Oz
29.01.2016

Agora é silêncio...




          Já não vale a pena dizer qualquer coisa

          e a sombra silenciosa vagueia ao meio-dia
          entre tantas outras sombras, fugidias
          meros traços mudos numa lousa.

          Já não faz sentido reviver o verbo,
          o que era eterno se tornou  fugaz,
          o grande criador agora é incapaz
          de criar; e a tua herança é um silêncio enfermo.

          Já não vale a pena reparar os danos,

          o berço da mudez gera os frutos da dor,
          já nem vale a pena dizer " eu te amo ".

          E nem adianta alterar os planos,

          o verbo jaz vazio, intátil, sem calor,
          adubo no jardim dos desenganos.



           Oz
           29.01.2016