quinta-feira, 7 de maio de 2020

Sobre a mulher num campo de girassóis




      Apesar de desperta, a mente vaga por caminhos oníricos... 
      o corpo precisa de repouso, mas as imagens insistem em chegar e estas imagens remetem a tempos outros.
      " imagens cortadas durante lapsos de sono"
      naturalmente bela é uma fêmea, uma ninfa, uma mulher, num campo de girassóis e,  deveria ser  feliz aquele que concebe e se envolve numa visão tão torturantemente rara.
     o homem, sombrio,  desamparado, circunspecto, pode apenas observar, à distância, a mulher abraçada à árvore, como quem busca um porto seguro.
      o homem, no seu precário poder de conquista, sente que tem que renunciar, e isso dói. Ele sente que está só. Ele sempre foi, é, e sempre será só, trilhando, absôrto nos próprios pensares, ruas de calendário...
      Há contradições várias, no relato, no sentir, no imaginar, mas é certo, também, que a própria vida é prenhe de contradições.



      "depois disso acordei"
      mas ele não estava insone???

     "pureza e verdade"

      Isso é o que ele vê, na sua ânsia de aprisionar o que já não é pássaro, mas, imensidão, medo e esquecimento.

      "entre um copo e outro, olhei-me no espelho"
    

      Quem ele vê? Quem ele quer ver?!
      
      Esta embriaguez não provém de copos e copos, da música à distância de um poeta pop. Mas, talvez sim, tenha uma origem de outra natureza, de uma fonte mais profunda, quando o homem, amortalhado, tenta alçar voô e sente que lhe serraram as asas.
      
      o homem, Durelli, ao descalçar suas botinas com tacões de aço, deixa entrever que quer andar mais leve.
      Talvez venha a perceber, um dia, que se secular é a árvore a qual abraça a mulher, fugaz é a lembrança e perene é o desejo.



oz
07.05.2020
{ sobre um texto de um amigo }