Apesar de desperta, a mente vaga por caminhos oníricos...
o corpo precisa de repouso, mas as imagens insistem em chegar e estas imagens remetem a tempos outros.
" imagens cortadas durante lapsos de sono"
naturalmente bela é uma fêmea, uma ninfa, uma mulher, num campo de girassóis e, deveria ser feliz aquele que concebe e se envolve numa visão tão torturantemente rara.
o homem, sombrio, desamparado, circunspecto, pode apenas observar, à distância, a mulher abraçada à árvore, como quem busca um porto seguro.
o homem, no seu precário poder de conquista, sente que tem que renunciar, e isso dói. Ele sente que está só. Ele sempre foi, é, e sempre será só, trilhando, absôrto nos próprios pensares, ruas de calendário...
Há contradições várias, no relato, no sentir, no imaginar, mas é certo, também, que a própria vida é prenhe de contradições.
"depois disso acordei"
mas ele não estava insone???
"pureza e verdade"
Isso é o que ele vê, na sua ânsia de aprisionar o que já não é pássaro, mas, imensidão, medo e esquecimento.
"entre um copo e outro, olhei-me no espelho"
Quem ele vê? Quem ele quer ver?!
Esta embriaguez não provém de copos e copos, da música à distância de um poeta pop. Mas, talvez sim, tenha uma origem de outra natureza, de uma fonte mais profunda, quando o homem, amortalhado, tenta alçar voô e sente que lhe serraram as asas.
o homem, Durelli, ao descalçar suas botinas com tacões de aço, deixa entrever que quer andar mais leve.
Talvez venha a perceber, um dia, que se secular é a árvore a qual abraça a mulher, fugaz é a lembrança e perene é o desejo.
oz
07.05.2020
{ sobre um texto de um amigo }