terça-feira, 30 de agosto de 2011

de antigas fotografias...


Ao rever antigas fotografias, meu velho, lembrava-me da Antonia, da Lu, da Sandra, do "dono" da cidade de Machupichu, o pub, as chollitas, a vida que não cessa, a memória vaga, a mulher que passa...

"Aprender a fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro..."

Dia desses dizia ao Durelli de que modo e em que medida podíamos expandir a àrea de consciência, como poderíamos fazê-lo sem que isto explodisse o nosso cotidiano ( seguro, adorável e repleto de desertos ) ?!

Não! não há respostas definitivas, eu sei, mas que importa ?

Nos protegem velhas lacunas de um tempo sem memória, talvez sejamos Pilatos sem cristo...

Quando você se torna alvo de gestos inusitados você percebe que tais gestos se assemelham a pequenas pedras atiradas no oceâno por alguém que caminha pela orla: Ninguém nota e nem vê grandes mudanças na superfície mas a pedra e oceâno sabem...

E de repente leio em algum lugar uma estrofe, acho que de um moço chamado João Moura, é o seguinte:
" Por que temos que amar tanto as mulheres ?
e que não me venham chamar de misógino
este que, no máximo, é um misantropo.
( deseja estar sozinho, ma non troppo )


&&&


convite


Abraça-te a ti agora
esquece, ama, vive
a trilha, invisível
a noite não demora.

A volta, impossível
relógio ladra louco
a mente em vertigem.
jangada em mar revolto.

Teus pés vagam a esmo.
na tarde agonizante
assombra, a luz dos olhos.

Mergulha-te em ti mesmo
teu tempo, este instante,
teu corpo, um mar de abrolhos.


&


E quando ouvia , na madrugada, Armas químicas e poemas, do Engenheiros, de repente, tive a sensação de que tal canção tinha algo a ver com a Sofia e quis que ela estivesse alí a ouví-la também...


Até...

Oz
Agosto de 2011

sábado, 13 de agosto de 2011

Derrota



Oh, meu pequeno exército
eu, capitão sitiado
desertor de mim mesmo
busco, a esmo, o caminho de casa, mas é tarde, eu sei.

Meu exército de fuzis de cêra, o verão não tarda, lamento..
onde estão os nossos inimigos
talvez lá fora..
talvez cá dentro...

Nossa fortaleza à margem do mar morto foi incendiada
Nossa pavilhão capturado
Nosso soldo trocado por sete escravas brancas.

Meu coração em frangalhos
Ao relento, os companheiros mortos.

À distancia, uma obscura canção embala o sono espectral de moribundos prisioneiros.

Tempos sombrios
sentidos pétreos

Nas tendas, nas alcovas, nas ravinas, há lágrimas, há sêmem , há medo...

Estejamos vigilantes para que, ao amanhecer, não nos tornemos os mais novos inquilinos daquele cemitério inexistente e pagão.


Oz

Julho de 1996

de um retorno...








Hoje retornei ao sótão das sombras sem memórias. Seres dançantes em cores e fuligem. As sentinelas postadas no pórtico receberam -me em silêncio.


Um velho candieiro de cobre, com sua chama azulada, fazia tremeluzir os corpos da ninfas e de outros seres singulares. Adentrei o salão azul repleto de imagens seculares e à medida que me aproximava das mesmas estas se metamorfoseavam em pássaros metálicos e o ruído das suas asas na penumbra vibravam-me os tímpanos de modo insuportável. Afastei-me logo dalí.


Penetrei um segundo salão e neste uma bailarina flutuava sob uma densa névoa púrpura e ouvia-se ali o ressonar de um animal que dorme. Junto a uma fonte os meus fantasmas taciturnos passavam os seus dias numa partida de xadrez que não havia...

Na terceira escadaria em espiral vi-me num terceiro salão infinitamente branco e por ali um hipopótamo voava rumo ao horizonte púrpura, no seu dorso uma figura quasemente humana trazia nas mãos uma extensa lista de nomes e estes eram chamados e surgiam , de quando em vez, cabeças disformes e olhos mudamente mudos o que fazia estremecer o hipopótamo no seu vôo circundante e surgir lágrimas nos olhos do homem.


Quedei-me por um momento alí, anestesiado...

(...)


Afaquei em lágrimas arcanos e outros cantos, e meus olhos divisaram, ao longe, o semblante impávido de Deus...