segunda-feira, 1 de novembro de 2021

de uma determinada cor...

 



      Estranho como, de repente, um pequeno detalhe " cor de canela" foi como uma faísca capaz de incendiar meio canavial que são os meus pensamentos, e ainda hoje, aqui e ali, ainda sinto o calor que emana das cinzas que o vento norte não conseguiu levar...

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Um ponto que diz tanto, tão distante...

 


      Há muito, ele vagueava por um vale de sombras, o coração contrito, sob um sol frio e um vento cortante, seus pés congelavam ao contato com as pedras. Ele estava arfante, ele estava aflito.

      Por muitas manhãs caminhou sem destino certo e tentava se lembrar de uma canção que ouvia na infância, mas nunca se lembrava, e só balbuciava; até que um dia, também numa manhã, na verdade, era quase meio-dia, pensou avistar ao longe o que parecia ser um jardim, e era, oculto entre as ruínas de um convento abandonado; ele não acreditou, ele ficou extasiado.

      Havia ali caliandras, canela-de-ema, topete de cardeal, marizeiras; orquídeas brotavam em alguns troncos adormecidos por ali...à direita daquele jardim, num canto mais afastado, uma se destacava: uma flor-de-lis; enquanto ele a admirava, as nuvens se abriram e o sol se tornou mais brilhante sobre ele e sobre aquele antigo convento e então se desenhou na sua memória aquela antiga canção e o seu coração se alegrou.

      Sentiu que algo que desconhecia o levara até ali. Até a sua flor-de-liz...


Oz

15.07.2021

 


quinta-feira, 15 de julho de 2021

autômatos

 



O mais assustador é a falta de sentido

a indiferença, o vazio interior, o inimigo

o chamado inaudível, interrompido.


O verão do isolamento é frio e denso

a sombra diz: aqui estou e vos protejo.

A presença do invisível é algo intenso.


A assembleia quedou-se, inerte, muda

o equilíbrio entre a dor e o desejo

desinstalou-se; um hiato imenso.


Não há mais " meu irmão", " meu endereço"

Não há mais " meu reino"; todos despidos 

Vontade, Fé, Razão; meros adereços.


Oz

15.07.2021

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

trovas para viola

 


Um poema me veio

eu não tinha caneta

uma ideia me tocou

e eu, maneta.

uma ideia fugaz, tão sutil

e busquei abracá-la

ela sorriu pra mim

e fugiu.


Onde ela foi parar ?

onde ela foi parar ?


Uma ideia tão linda, envolvente

numa cabeça má, decadente.

E assim, distraído, eu andei

e entrei num boteco qualquer

e pedi um conhaque e tomei

e me vi no espelho

e me vi tão vermelho

e saí para a rua

prossegui no meu auto de fé.


onde ela foi parar ?

onde ela foi parar ?



Wednesday. september 05. 2019

Oz.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

a alguém que me perguntou por que eu estava * louvando o livro e *descendo a lenha na tv...

 


      A diferença para mim, entre o livro e a televisão é que com o livro há uma espécie de diálogo. Tenho tempo de parar um pouco e refletir naquilo que ele está me dizendo, enquanto isso ele, o livro, se cala. Posso ir preparar um café e deixá-lo lá, quieto, no sofá. Com a tv, uma vez que eu aperto o botão de ligar recebo uma enxurrada tão grande de informações que mal tenho tempo de processar o que me é dito nos primeiros cinco minutos; fica difícil qualquer dúvida, qualquer questionamento, sem falar que logo descubro que tenho necessidades de tantos produtos que ali me são " oferecidos" , necessidades das quais nem suspeitava e logo me vejo a procurar onde deixei o meu cartão de crédito...