terça-feira, 3 de agosto de 2021

Um ponto que diz tanto, tão distante...

 


      Há muito, ele vagueava por um vale de sombras, o coração contrito, sob um sol frio e um vento cortante, seus pés congelavam ao contato com as pedras. Ele estava arfante, ele estava aflito.

      Por muitas manhãs caminhou sem destino certo e tentava se lembrar de uma canção que ouvia na infância, mas nunca se lembrava, e só balbuciava; até que um dia, também numa manhã, na verdade, era quase meio-dia, pensou avistar ao longe o que parecia ser um jardim, e era, oculto entre as ruínas de um convento abandonado; ele não acreditou, ele ficou extasiado.

      Havia ali caliandras, canela-de-ema, topete de cardeal, marizeiras; orquídeas brotavam em alguns troncos adormecidos por ali...à direita daquele jardim, num canto mais afastado, uma se destacava: uma flor-de-lis; enquanto ele a admirava, as nuvens se abriram e o sol se tornou mais brilhante sobre ele e sobre aquele antigo convento e então se desenhou na sua memória aquela antiga canção e o seu coração se alegrou.

      Sentiu que algo que desconhecia o levara até ali. Até a sua flor-de-liz...


Oz

15.07.2021