sábado, 4 de janeiro de 2020

da colheita

      



      A cada um cabe descobrir os efeitos que podem causar os frutos gerados pelas sementes que tem nas mãos, mas como é difícil.

     Numa certa manhã, a três camponeses foi dada a tarefa de semear um campo cujo tamanho lhes era desconhecido. A cada um coube duas mãos cheias de sementes também desconhecidas. Apenas lhes foi dito que, numa mão as sementes tinham efeitos nocivos, deletérios, venenosos, e, na outra mão, boas sementes, balsâmicas, salutares, morangos e umbus. A despeito da indecisão, surpresa, e um pouco de medo que sentiam, puseram-se a semear. Ora com uma mão, ora com a outra. No início, o trabalho foi feito de modo inconsequente, alegre, quase irresponsável; mas, à medida, que começavam a surgir os primeiros brotos, à medida que se distanciavam das margens do campo, ao olhar para trás, começavam a se dar conta de que, atrás deles se formava um pequeno grupo, que se tornava com o passar do tempo uma pequena multidão; perceberam também que algumas daquelas pessoas colhiam os primeiros frutos daqueles primeiras árvores que haviam surgido da sua semeadura, e também que assim que comiam aqueles frutos uns se mostravam mais alegres, robustos, alguns radiantes enquanto que outros se debilitavam, se tornavam irritáveis e tombavam ao solo. Aquilo os assustou e, olhando as próprias mãos, cheias de semente, já não sabiam mais qual árvore viera de qual mão e até porque eles mesmos se alimentavam dos frutos daqueles árvores.

(...)

      Com o passar do tempo as sementes se misturavam e agora já não era tão fácil saber qual semente de qual mão gerava qual fruto. Certo era que precisavam continuar o plantio. Era a tarefa a ser cumprida.
      E desde então, (essa semeadura teve início já há um bom tempo) mesmo tendo apenas uma vaga noção da qualidade de cada semente que lhe vai nas mãos, pois estão misturadas, eles, estes camponeses, continuam a semear, sabem que não podem parar, essa é a sua tarefa. Cabe-lhes semear e aguardar os resultados dos efeitos dos frutos que surgirão daquele imenso pomar que se formou atrás e em torno de cada um.