quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Etzel
     
      Na sua busca Etzel se tornou o dia e a noite, a tempestade e a calmaria, as alturas do sono e as funduras do negro despertar.
      Ele busca a lâmpada que se perdeu na noite incipiente e com ela pretende rasgar a cortina que se instalou entre a sua fome primária e o seu alimento de pedra.
      Primogênito da obsessão e do caos, em seu coração insone a tempestade formou ninho.
      No outono seus olhos se enchem de lágrimas negras, mesmo assim, ele avança com seus sapatos de aço e sob os seus tacões brotam águas pestilenciais.
      Ele é o semeador e dos teus lábios brotam frutos pantanosos.
      Etzel quisera  ser de pedra mas o teu coração é árvore e neve e imensidão.
     Ah, Etzel! Quão triste é o teu caminho e pesado o teu fardo!

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Por hoje...

Hoje serei um orangotango...
Hoje eu desisti de ser humano.

sábado, 10 de agosto de 2019

No parapeito

Há alguém de pé no parapeito
Alguém que talvez tenha o coração desfeito
Que talvez esteja à espera de uma mão.



Ao redor, seres cambaleantes


 
Vivenciando pesadelos flutuantes 


Pisoteando o arbusto da razão.


Há alguém à beira de um abismo 


Alguém à espera de um sorriso 


Alguém que está fitando a escuridão.


Alguém está numa espiral de medo 


Alguém cuja existência é um segredo 


No parapeito um pedido de atenção.


Oz
06.05.2011

sábado, 3 de agosto de 2019

A propósito de um instantâneo

(há um quarto de século)

      Há 25 anos, para ser mais exato, em fevereiro  de 1994, uma Kodak qualquer eternizava um momento etilicamente sublime. Naquele verão as macieiras lá no sul da Califórnia se encontravam em plena floração, as renas pastavam tranquilamente nos platôs andinos e cá, por estas plagas, três jovens integrantes da plebe rude, porém não conformada, tomava vinha barato e comia frango assado num apartamento  2/4 situado no planalto central. Há  25 anos.
      A gente pensa que o passado ficou para trás, mas não! Um passo em falso, um gesto desmedido, um movimento fora da cadência e somos inexoravelmente empurrados para o passado...
      É um belo retorno.
      Quase sempre. 
      ou seria sempre quase?
      Neste caso específico, creio que haverá divergência de opiniões.
      Mas, como dizia, naquela época ninguém precisava ser um sommelier, discípulo de Baco ou coisa parecida para saber apreciar um bom Sangue de Boi que vinha nuns singelos garrafões de cinco litros. O frango, que chegara ao apê após um boa meia duzia de tombos no asfalto molhado (chovia) foi destrinchado, estraçalhado, comido, acompanhado com generosas taças do tal vinho.(taças não, na verdade, copos americanos) e, naquele momento, aposto que até os melhores caviares do Cáucaso sentiram um pontinha de inveja por ver um simples galináceo ser devorado de modo tão régio.
      Naquele tempo esses três caras da plebe se embrenhavam também no vasto e intrincado universo literário,  e F. Pessoa, F. Sabino, (para ficarmos apenas em dois Fernandos), Lygia Fagundes Telles com Verde Lagarto Amarelo, Clarice Lispector com Macabéa, Drummond, Quintana, Manuel Bandeira, Ana Cristina César com Aos Seus Pés, isso sem falar em Kerouac com On The Road, Kafka com Metamorfose, Camus com o Estrangeiro, enfim, todos esses caras eram companhias permanentes de uma maneira deliciosamente aleatória. 
      Um dia, um desses três caras foi ao Homero, pegou Ilíada e, com a determinação de um toureiro que vai pra arena sabendo que o touro é bravo, leu-a, devolveu-a à estante, virou e disse: --- pra mim basta! estou nutrido de literatura pelos próximos três séculos, amém...


      Mas devem estar se perguntando: 
     --- mas, cadê a porra da foto?


      Pois é, a foto. Acontece que este escriba que vos remete estas mal traçadas linhas permanece numa dúvida atroz. Enviar este instantâneo para o tal The Intercept para que este hoje tão famigerado órgão possa avaliar a conveniência de sua publicação ou não!
      A autenticidade do registro será questionada, indubitavelmente; de qualquer modo, é como eu sempre digo, o quê nos tempos hodiernos não foi ainda questionado, "aparpado", bulido???
      O tempo das certezas já passou...


      Já posso até imaginar a legenda abaixo da foto, Joyceanamente escrita: 
      "RETRATO DE UM MAGISTRADO QUANDO JOVEM"

      pois é, meus amigos, imaginem a situação... rssss


      Um grande abraço e até breve!!


      Oz.
      02.08. 2019



     

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Hair

E, para alguém que ria do meu pequeno, mirrado, insignificante exército capilar, eu disse:
   Que estes filhos da puta permaneçam em seus postos, os que ainda não desertaram.
..
Oz.