terça-feira, 6 de setembro de 2011

pois ia sem àlibi


O jovem camponês jamais pôde partir no seu trem imaginário de desejo e fica e olha e visita, olhos fechados, velhos castelos da transivânia, ceia com czarinas russas, banha-se no Tejo.
O jovem camponês campeia palavras no vasto campo silencioso da manhã para ilustrar o seu cotidiano e aquecer a sua esperança irmã.

Camaleônicas palavras entregues numa luta infinda na fronteira dos lábios, de aljavas vestidas, quase humanas.
Camaleônicos risos.
Thánatos, Dionísio
Ventos, vendavais.
Linhas retilíneas
Curvas infinitas
em silêncio transam e sempre querem mais...

Pois ia
vender a morte calada no fundo da noite
por nada
sem norte
a caminho
alvo de olhares
mas não da sorte.
Pois ia num corredor infinito
abrindo portas
aos gritos.

O mundo, um carrinho de bebê desgovernado.

pois ia
um acidente na auto-estrada
onde ninguém bateu em nada.

Amar talvez o vôo de um pássaro empalhado
numa tarde de estiagem

O acaso me habita
inquilino a matar moscas
no silêncio de horas mistas.

Rir se mim mesmo ?!
não tenho graça
como diria o garoto
nem caramujo nem garça...

A cena é de um crime
e aqui estamos nós...
nosso álibi ?
não termos tido voz...

" feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu..."

Oz
( julho de 1996 )

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