sexta-feira, 3 de junho de 2011

No parapeito

Há alguém de pé no parapeito
alguém que talvez tenha o coração desfeito
que talvez esteja à espera de uma mão.

Ao redor, seres cambaleantes
produzindo melodias dissonantes
pisoteando o arbusto da razão.

Há alguém à beira de um abismo
alguém à espera de um sorriso
alguém que está fitando a escuridão.

Alguém está numa espiral de medo
alguém cuja existência é um segredo
no parapeito um pedido de atenção.



Oz
06.05.2011

( neste mesmo instante, quantos estarão no parapeito desse nostro mondo ? ... )

2 comentários:

  1. Oz pergunta “neste mesmo instante, quantos estarão no parapeito desse nostro mondo ? ...” E eu, Sophia, sobre quem Oz divagou, reflito.

    Talvez muitos, em multidões cada vez mais anônimas e solitárias, estejam no parapeito. Uns já o sabem que estão. Outros, não. Mas mesmo assim lá estão, gozando da ignorância de não saber que a existência sem sentido, por ser uma existência não testemunhada, repartida, alimentada por ninguém, está prestes a acabar no salto não planejado no abismo do anonimato, de não ter feito diferença por existir nesse Vecchio mondo .
    Talvez muitos outros tenham nascido no parapeito. Talvez mais ainda seja da natureza de alguns estar no parapeito, por não suportarem a ideia de gozarem de uma vida morna no primeiro andar ou de brincarem de Poliana, quando o desespero por respostas e luz não encontradas convide mais a chorar do que a rir. A ter medo de caminhar do que de andar a passos largos na vida com os amigos, em boas pescarias, com os amores, fulgazes ou para a vida toda, ou consigo mesmo, com ou sem razão.
    Talvez, haja ainda aqueles que estejam no parapeito por cicatrizes que os marcaram, como o coração partido, um amigo perdido, uma palavra não dita, uma pergunta calada, um desejo não correspondido, mas que não queiram uma mão para os empurrar. Que queiram duas mãos e um saboroso sorriso para os trazer de volta à superfície, à terra dos sonhos, à existência noturna compartilhada na qual seja possível realizar os sonhos. Na qual seja possível acordar no mundo de colunas de mármore, sonhos americanos ou novelas mexicanas ou quaisquer outros universos paralelos onde se fale em italiano a lingua da compreensão universal: os sentimentos.

    Talvez, o alguém de pé no parapeito intuitivamente saiba que está à beira do abismo, à espera do salto, porque ganhou daqueles que com ele se importam grandes asas para voar ou a certeza de possuir a capacidade de renascer, em ideias, ações e escrito, após cada salto, para ser melhor.

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  2. E, do céu,os deuses pensavam: quem terá ousado desafiar os nossos sentidos?!e puniam os homens com pestes, assombrações e sonhos...

    P.S.Interessante reflexão, Sophia, me envaidece ter um texto sob os olhos de alguém com tamanha capacidade de análise...
    Grazie!

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