sexta-feira, 3 de maio de 2013

Vista de uma sacada




O pintor daltônico envolto em sombras lúdicas tateava na diáfana parede dos tempos em busca de quadros flutuantes em faces fáceis, no tecer preciso dos aracnídeos, no invisível voo das aves.

Seus olhos projetavam pinceladas e lembranças em depósitos de cinzas e outros arcanos.
Um coração indigente quase que inerte num salão repleto de pálidos fantasmas.

Agora está morto na sala deserta.

Deuses palhaços leves coloridos
pássaros de plástico, tariscas e mistérios
sobrevoavam lindamente o quadro surreal
e eu assistia a tudo pela janela aberta.

Sou o menino da rua 1104
aquele da sacada marginal
o único cúmplice de um viver incauto e belo.

Daria a minha manhã mais bonita
pela certeza de ter apenas sonhado que o criador de voos vadios recolheu os pincéis
e partiu em silencio...

Agora está morto na sala deserta...


Oz
Set. 94

* Fato presenciado pelo autor quando criança em B.H

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