quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vagando na noite



1

Na noite fria habita a solidão coletiva. No colo estéril de cimento e aço fenecem os sonhos de mudos indivíduos. Sob marquises metálicas, orfãos ensaiam rituais de êxtase e caos e nos seus olhares opacos relampeja a sombra da loucura.
Herdeiros insensíveis de um medo inenarrável, os transeuntes exercitam a sua cegueira cotidiana.
Inexorável, o destino, pássaro de sete asas, prenuncia com os seus gorjeios uma sinistra primavera aos habitantes da cidade enfurecida.
Na noite fria o senhor da fonte fez recuar as sentinelas das torres da bondade e da misericórdia.
Na noite fria florescem nos trigais espigas cáusticas e sombras taciturnas fazem a colheita corrompida.
2

Uma tempestade se anuncia no horizonte plúmbeo. Um sonho deletério habita o sonho do cobrador de tributos.
Cadàveres putrefatos no fosso que circunda a muralha da fortaleza abandonadda.
Cães famélicos rondam o acampamento.

Um ancião murmura uma oração ao crepúsculo mas todos parecem entorpecidos. Um vento quente faz estremecer as tendas em frangalhos.
Na madrugada tempestuosa um cavaleiro envolto em escuridão e raios atravessa o vale num galope célere e o silêncio permanece adormecido no acampamento.
Na muralha, inscrições riscadas à faca. No solo, respingos de sangue.
Uma mulher soluça enquanto nina uma criança morta.



Oz

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